segunda-feira, 9 de maio de 2011

- série 7 pecados: a inveja! -

Não tinha engordado nem um quilo, mas não cabia em si.

Tinha acontecido exatamente da maneira que ela sonhou. Tá certo! Quase tudo do jeito que ela sonhou. Era de manhã, como ela sonhara. Seis e meia da manhã, depois da balada, mas era de manhã. Ela tinha imaginado um lindo café na cama, com uma flor linda para admirar. Na real, teve mesmo foi que encarar uma remela no olho esquerdo dele, mas tava tudo certo, porque o olho dele (sem remela) era lindo de morrer. Pensava em receber o pedido acompanhado de um poema de Fernando Pessoa. Teve somente um “e aí? Já tâmu junto mesmo. Você é a patroa mesmo. Vamu casá então! Mas que fique claro que vamos dividir o valor da cerimônia por 2 e, ah. Te amo gata!”. Te amo gata é poesia... Mas assim, fazia sol. Ela sempre sonhou em receber o pedido num dia de sol. E sim. Era dele. Aquele pelo qual ela estava tão loucamente apaixonada há tanto tempo e depois de muito lutar...

Depois do pedido e de um bom banho, saiu de casa flutuando. Deu bom dia ao porteiro, acariciou a cabeça do pequeno bulgog da vizinha. Pensou em sair de carro, mas resolveu caminhar. Queria dividir com o mundo a sua alegria, que apesar de gigantesca, não parecia estar completa, até encontrar Aline.

Aline era a ex. Ex namorada. Ex amiga. Ex-terminada da vida dos dois por um golpe do destino. Quando, há três anos atrás, Aline ligou para a Cata para contar do novo namorado, ela parecia não colocar fé na relação. O jeitinho quase arruaceiro de Guilhermo realmente não parecia bater com a maneira séria de Aline e logo na primeira descrição, Cata deu uma semana de prazo. Durou 2 anos e seis dias. 2 anos e seis dias em que Cata sofreu a cada momento o desgosto de perder uma amiga e a inveja de não ter, nem de longe, um Guilhermo para chamar de seu.

O que nenhuma das duas imaginava é que o destino pode até escrever certo, mas suas linhas são sempre tortas. No sétimo dia após a separação, ao invés de descansar, o destino colocou Guilhermo na vida de Cata e se encarregou de amarrar bem direitinho para ela bem se apaixonar de vez. E, como mulher finge que não, mas é tudo igual, Aline, que antes num tava nem aí para o carinha resolveu colocar a sua amizade a prova por ele. Guilhermo passou de ano. Alice não.

Mesmo que o episódio tivesse acontecido há algum tempo, a disputa das moçoilas era bem acirrada. Alice, que não era mais amiga mas se achava bem ética, optou por tirar o seu timinho de campo, mas continuar a rezar para todos o santos pela separação. Encontrar a Alice justo naquele dia, era a oportunidade de ouro para provar a vitória e dar o golpe de misericórida para vencer a batalha.

Atravessou a rua sem nem olhar para os lados. Sentou-se na mesa com a Aline.

- Oi!

- E aí?

- Sabe da novidade?

- O que há para saber? Tem um ano que a gente não se fala.

- Ah, mais do jeito que você me mira, deve saber mais da minha vida que eu.

- Sem essa Cata. A bandeira branca tá levantada. Você sabe que eu tô em outra...

- Ah tá?! Então você pode parar de seguir o Guigo no twitter.

- Nem sigo!

- Mas olha que eu sei.

- Sabe nada Cata. Você por um acaso olha com meus olhos? Já falei. Tô em outra.

- Então, nem vai ligar em saber que a gente vai casar!

- Casar!?

- Sim. Ele me pediu em casamento hoje. Foi lindo, do jeitinho que eu falei. Cada detalhe. A rosa vermelha, o beijo com gostinho de café. Ele até me deu o anel, mas ficoou meio largo, mandei ajustar...

- Casar?!

- É Aline. Véu, noite de nupcias, benzinho e amorzinho. Te mando o convite da cerimônia, vai ser lindo, com caligrafia clássica, sabe???? Aline, você tá bem?!

Não pode deixar de notar uma lágrima solitária que caía do rosto de Aline. Ela descia dolorida, ardida, com gosto amargo daquilo que nunca mais poderia ter. A lágrima deixava o rastro de um sonho perdido, esquecido, liquidado. Significava o golpe de misericórdia. Ela o tinha o perdido.

- Você poderia, por favor, não me convidar!?

- Sim. Você nunca mais saberá notícia da gente.

Se olharam pela última vez, com a certeza que aquilo tinha acabado. Cata decepou a cabeça para ela morrer na hora, sem a dor que ela tinha premeditado.

Assim que se afastou, Cata se sentiu vazia. Tinha chegado para comemorar a vitória da sua inveja, mas constrangida com a sua própria felicidade, deixou nascer em si, a compaixão.

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