sábado, 15 de agosto de 2009

Sonho contado em quarta pessoa

Elas chegavam atrasadas a uma palestra: cadeiras em auditório. Homenzinho engomado falando enquanto trocava slides de um ppt.

Elas exitavam um pouco antes de entrar e nasce um rubor nas suas bochechas de vergonha por chegar.

Mas, chegam. Alguém que as conhecem está sentada entre aqueles que assistem, olha para trás e as reconhece. Ao seu lado, está uma menina com cara de flor. Eles se olham, olham para as duas, riem por algum motivo e apontam um lugar logo a frente para que elas se sentem.

Das duas, uma é mais atirada e loira. A outra tem cabelos compridos. A loirinha se aproxima dos lugares e a outra sente o coração gelar. Na frente dos conhecidos, havia sentados três lindas moças com marcas redondas na testas e um cara que a fez congelar.

Aí, ela tentou se esconder sob os cabelos compridos e desviou o olhar como se estivesse olhando “além dele”, sem tê-lo visto ali.

Ele percebeu a situação, soltou um sorriso e se ajeitou na cadeira. As moças não gostaram da presença delas ali e, junto com a cara de flor, logo pensaram em uma maneira de afastá-las.
Sentaram uma fileira na frente dele. A loira puxando a de cabelos comprido pelo baixo, que mexia na bolsa procurando um moleskine que não tinha.

Sentaram e se ajeitaram.

A de cabelos compridos faz um comentário com a loira e sente uma mão sobre o seu ombro. Acha que é a dele. Ele novamente a sorri. É de um não conhecido que fala alguma coisa que ela não escuta.

Cabelos compridos não se aguenta. Passa a mão no celular e simula uma ligação, se levantando do seu lugar, irritando todos os outros da fileira e corre fora da sala.
Ele olha para ela e ainda sorri, sabendo que a desconcerta.

Ela sai. A loira fica. Entra sozinha no banheiro e se tranca em uma baia daquelas. Senta no chão encolhida, emaranhada nos seus cabelos e descabidamente envergonhada.
Escuta um toc toc. Fica com medo de abrir. Mas, abre.

É a cara de flor e as meninas marcadas. Elas chacotam da de cabelo comprido e entregam um papel amassado. Com medo e chorando muito, ela abre o papel. Está em branco. E ela sente ali, naquele momento, a sua insignificancia para a vida.
Tudo vai se ofuscando, ofuscando, até ela sumir do meu ângulo de visão.

Volta a cena. A Cabelos compridos andando pelas ruas de Paris. Ainda triste. Ainda encabulada.
Para em uma rua compriiiida e vê ele o cara vindo de longe. Ambos andando sozinhos e na mesma direção. Ela trava. Coração congelado. Ele parece não a reconhecer. Mas ela sabe bem quem ele é.

Continuam andando. Ela de vestido branco. Ele de boina na cabeça. Se cruzam no meio da rua. Ela olha para o chão e tenta apressar o passo, quer fugir dali. Ele nem a percebe no início, mas depois que já cruzou com ela, olha para trás e mexe a cabeça como que para lembrar.

Simula uma fala, um chamado, um reconhecimento. Mas, mas se cala para deixá-la ir.

Eles continuam seguindo caminhos opostos, mas volta e meia, olham para trás para deixar seus olhares se tocarem.

Ele não sabe quem é ela se a encontrar novamente na rua.
Ela não acredita que ele possa existir de verdade.

O sonho acaba com a minha imagem sentada no meio da rua, bem naquele cruzamento. E lá eu permaneci até acordar.